Por Patrícia Príncipe
A TV, assim com qualquer outra empresa, sobrevive se der lucro aos empresários do setor. Esta lógica capitalista vai de encontro à principal função da mídia, expressar livremente o pensamento do povo e servir ao interesse público.
Neste conflito de interesses, vão surgindo no ar programas do mais baixo nível de apelação, do bizarro ao grotesco, exibindo imagens inimagináveis até em ficções de Hollywood. Não há respeito por nada nem pessoa alguma. "Aqui não é Tv da Xuxa, nem Disneylandia. O Sistema é bruto", frase dita pelo antigo apresentador do programa
Na Mira,
Uziel Bueno. Frase dita e repetida pelos apreciadores do gênero.
Milhares de jovens assistem diariamente cenas de crimes bárbaros, banalizados e exibidos à hora da refeição, assim como matérias que incentivam o uso de drogas, levadas ao ar através de animadas festas, embaladas pelas mais diversas substâncias alucinógenas e entorpecentes. Todas as matérias ancoradas por apresentadores carismáticos e competentes para auditórios caricatos.
“Os programas populares se sustentam por tratar de assuntos que se aproximam das classes mais pobres e baixas. É difícil não comentar que eles usam de artifícios e de uma interpretação sensacionalista para conquistar seu público”, comenta Bárbara Souza, professora de jornalismo da Faculdade Social, em Salvador.
Algumas perguntas são peculiares a esses ‘jornais’. Estes programas incitam os jovens às drogas e a violência? O que o Ministério Público acha desses programas? Quais são as leis que podem proteger nossos jovens dessa escola do crime? Entrevistando alguns telespectadores será que eles negam gostar do gênero popular? Quem vê então, ou quem vê e não conta? Até que ponto os pais são responsáveis por permitir que seus filhos assistam?
Convenhamos que no nosso contexto social, no qual a maioria dos pais passam o dia no trabalho, uma lei rigorosa iria suprir a ausência desta vigilância doméstica.
A administradora, Celina Barros, afirma que gosta de assistir séries, filmes, programas de música, jornais e novelas e não se sente atraída pelo gênero de programas apelativos. Incomoda-se com a falta de ética que vê praticada, principalmente se for criança ou idoso sendo expostos ao ridículo, e sente-se incomodada ao ver pessoas sendo humilhadas no vídeo e piadas de humor negro. “Acho que programas como
Na Mira e
Bocão, são falsos jornais por que não nos trazem informações contextualizadas. Só expõem pessoas ao constrangimento”, comenta Celina.
O produtor do programa de entrevistas ‘Perfil e Opinião’ da TVE, Nonato Freire, atesta que as emissoras orientam para o cumprimento do código de ética e que o produtor verdadeiramente profissional está consciente de que ele existe e deve ser respeitado. Porém admite que o patrocinador banca e pode interferir, sim. “Quando é feito um piloto de programa para a aprovação do patrocinador, isso fica bastante claro”, enfatiza Nonato.
Quanto ao cuidado para não causar constrangimentos ao entrevistado, o produtor fala que nas entrevistas ao vivo é sempre mais complicado. “A vantagem do programa gravado é que se pode evitar qualquer tipo de constrangimento, por ambas as partes, ou seja, entrevistador ou entrevistado”, declara. Nonato Freire afirma que “diante da invasão da subcultura vigente no nosso país, onde o produto apresentado e consumido é de péssima qualidade, as Tvs públicas ou algumas pagas, ainda se preocupam com conteúdos culturais e éticos, para a população”.
É muito ampla e contraditória esta discussão sobre a extensão da responsabilidade que os meios de comunicação têm sobre os nossos jovens. Haveremos de encontrar meios que coíbam os excessos sem a necessidade de censura prévia? Enquanto os debates acontecem, uma geração de jovens se familiariza com a violência e recebe seus diplomas do crime, aprendendo nos programas populares que a sociedade é plenamente violenta.